A revista ISTOÉ publicou uma matéria em sua edição esta semana onde mostra que é cada vez maior o número de evangélicos no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Conciliando compromissos religiosos e militância política, estão assumindo posições de liderança nos assentamentos. Em sua maioria são pentecostais. Uma novidade num movimento surgido na década de 1980 e de forte ligação com a Igreja Católica, que sempre esteve próxima da luta pela reforma agrária por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPP).
“Trata-se de um novo agente religioso que reivindica políticas sociais para o desenvolvimento rural”, explica o sociólogo Fábio Alves Ferreira. Ele é autor de uma tese de doutorado sobre o assunto, intitulada “Pentecostais e a luta pela terra no Brasil – deslocamento e equivalências entre identidades religiosas e agentes sociais em assentamentos de reforma agrária”.
Para o acadêmico, existe uma mudança na tradição pentecostal histórica com essas ações políticas coletivas. A socióloga Marluse Maciel, que escreveu tese de doutorado sobre as relações entre os movimentos sociais e as religiões também chegou a conclusões parecidas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 existiam 4,4 milhões de fiéis em zonas rurais, um aumento de 900% em relação ao levantamento feito dez anos antes.
O professor Agnaldo Portugal, do departamento de filosofia da Universidade de Brasília, disse à revista: “Por acreditar que estão lutando pela terra por um chamado de Deus, essas pessoas tendem a ser mais perseverantes. Isso gera uma força muito grande ao movimento”.
Um bom exemplo é Maria Solange Barbosa, 65, que está assentada em Bela Vista do Chibarro, perto de Araraquara (SP), também é fiel da Assembleia de Deus. Após 30 anos de lutas sociais, conta que já se envolveu em muita “pancadaria” antes de se converter. “Hoje, não vou deixar de lutar pelos nossos irmãos, mas não vou tomar nada de ninguém”, conta.
Por sua vez, Elisabeth de Oliveira Costa, 41, que preside a associação de mulheres agricultoras rurais no acampamento Luiza Ferreira, em Moreno, região metropolitana do Recife (PE). Membro da Assembleia de Deus, pertence ao MST há cinco anos. “Sou socialista, mas antes morria de medo dos sem terra. A vida melhorou muito. Como o que planto e colho”, comemora.
Nenhuma denominação evangélica apoia oficialmente o MST. Segundo Fábio Ferreira, o envolvimento deles com o movimento, os faz interpretar a “Bíblia” com um olhar diferenciado. “Quando Deus criou o mundo, deu terra para todos. Ele não queria que um grupo morasse na favela”, acredita Elisabeth. Essa reinterpretação acaba dando força para sua luta pela reforma agrária.
Fonte: Gospel Prime
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